domingo, janeiro 28, 2007

A sereia das pernas tortas



Era uma vez uma mulher que tão depressa era feia como era bonita.
Quando era bonita, as pessoas diziam-lhe:
-Eu amo-te.
E iam com ela para a cama e para a mesa.
Quando era feia, as mesmas pessoas diziam-lhe:
-Não gosto de ti.
E atiravam-lhe com caroços de azeitona à cabeça.
A mulher pediu a Deus:
-Faz-me ou bonita ou feia de uma vez por todas e para sempre.
Então Deus fê-la feia.
A mulher chorou muito porque estava sempre a apanhar com caroços de azeitona e a ouvir coisas feias. Só os animais gostavam dela, tanto quando era bonita como quando era feia, como agora que era sempre feia. Mas o amor dos animais não lhe chegava. Por isso deitou-se a um poço. No poço, estava um peixe que comeu a mulher de um trago só, sem a mastigar.
Logo a seguir passou pelo poço o criado do rei, que pescou o peixe.
Na cozinha do palácio as criadas, a arranjarem o peixe, descobriram a mulher dentro do peixe. Como o peixe comeu a mulher mal a mulher se matou e o criado pescou o peixe mal o peixe comeu a mulher e as criadas abriram o peixe mal o peixe foi pescado pelo criado, a mulher não morreu e o peixe morreu.
As criadas e o rei eram muito bonitos. E a mulher ali era tão feia que não era feia. Por isso quando os criados foram chamar o rei e o rei entrou na cozinha e viu a mulher, o rei apaixonou-se pela mulher.
-Será uma sereia?- perguntaram em coro as criadas ao rei.
- Não, não é uma sereia porque tem as duas pernas, muito tortas, uma mais curta que a outra. - respondeu o rei às criadas.
E o rei convidou a mulher para jantar.
Ao jantar, o rei e a mulher comeram o peixe. O rei disse à mulher quando as criadas foram embora:
- Eu amo-te.
Quando o rei disse isto, sorriu à mulher e atirou-lhe com uma azeitona inteira à cabeça. A mulher apanhou a azeitona e comeu-a. Mas, antes de comer a azeitona, a mulher disse ao rei:
- Eu amo-te.
Depois comeu a azeitona. E casaram logo a seguir no tapete de Arraiolos da casa de jantar.
Adília Lopes, In Quem quer casar com a poetisa?

2 comentários:

Tânia disse...

trengo.n percebes nada:P
caros leitores em geral e leitor em particular:é senso comum, mm nos nossos dias, q os caroços de azeitona são aviltantes- cheios de cuspo e o carago. para n falar qd se está num jantar e os gajos a desafiar a conversa de temas elevados para a badalhoquice, ou então a azeitona dentro do martini e a gente "ah, eu até comia, mas depois vou andar c o caroço na mão? ponho-o no copo? atiro ao careca aqui ao lado?". Esta seria sem dúvida a solução mais acertada.
Como se vê os caroços de azeitona podem ser muito incómodos e provocar desfechos trágicos.

Pekena disse...

Bem, confesso que a mulher acabou por ter muita sorte!! Foi mm pela azeitona...