quarta-feira, outubro 21, 2009

Quotidiano


"Todo o dia ela faz tudo sempre igual".

Esta música é de Chico Buarque. Podia ser dedicada a qualquer professor. Lembro-me que no ano de estágio, na sala de professores, tinha o hábito de massacrar os colegas com leituras do Diário de Sebastião da Gama. Tal como aqueles jovens da camisa branca, com sotaque inglês, que abordam pessoas na rua dizendo que conheceram Deus e que nos querem apresentá-lo, também eu atropelava os colegas (mais velhos, mais novos, funcionários, estafetas da DHL) com as palavras do "grande pedagogo". Uns tinham falta de tempo para me ouvir e fugiam, outros falta de paciência e de chá e recomendavam-me logo sítios mais propícios à meditação, mas pouco à pedagogia.
Hoje, recordo com saudade os tempos de utopia e idealismo. Volvido tanto tempo, continuo a atropelar (literalmente) colegas, mas o Sebastião da Gama... perdi-o algures no caminho...
Que é feito desse rapazinho loiro, de olhos brilhantes e saco à tiracolo que vivia dentro de mim?
Hoje continuo a interpelar os colegas, mas com interpretações de tabelas, gráficos, grelhas.
Por isso trauteio com o Chico. Para que ele me ajude a não esquecer que não podemos "fazer tudo sempre igual".