Quando conto, conto-me. E então sou uma puta generosa e uma menina invejosa. Gosto de sentir os olhos atentos do público, sedentos do próximo gesto ou palavra. Depois, sentir a sua pele escamosa multicolor, adivinhar-lhe a torção do corpo, o silvo. É com este acto despudorado, leviano que escolho as histórias: de mulheres na maioria.
Mas ao iniciá-las viajo para longe, para a Terra do Nunca e conto muitas histórias dentro de uma só história. Inspiro e expiro e agora sai-me descuidadamente uma magricela de óculos e tranças. Quero a lata com vestidos de papel para vestir a Anita e a Gilda em poses dolorosas saídas da folha. Quero fazer concursos de dança com a minha vizinha, trocar as rotações do disco e suar como quem precisa de quinina.. Quero ir para Alféloas apanhar amoras com a minha prima Elsa, tornar a cantarolar: “Gostas de amoras? Vou dizer ao teu pai que já namoras!” Quero as unhas pretas do pó e da sua tinta e a seguir fugir à frente de uma vaca que se cansou do cativeiro. Quero uma Camila-Mila no Natal. Quero o Um-Maricocum com direito a gema de ovo no final da sopa engolida. Quero o porta-moedas preto da Vó Tina cheio de chiclets Gorila para nos dar nos Domingos (dia de missa e de netos). É com este acto impertinente e caprichoso que conto as histórias. No final fico só eu, contente.
1 comentário:
Quando conto, conto-me. E então sou uma puta generosa e uma menina invejosa.
Gosto de sentir os olhos atentos do público, sedentos do próximo gesto ou palavra. Depois, sentir a sua pele escamosa multicolor, adivinhar-lhe a torção do corpo, o silvo. É com este acto despudorado, leviano que escolho as histórias: de mulheres na maioria.
Mas ao iniciá-las viajo para longe, para a Terra do Nunca e conto muitas histórias dentro de uma só história.
Inspiro e expiro e agora sai-me descuidadamente uma magricela de óculos e tranças.
Quero a lata com vestidos de papel para vestir a Anita e a Gilda em poses dolorosas saídas da folha. Quero fazer concursos de dança com a minha vizinha, trocar as rotações do disco e suar como quem precisa de quinina.. Quero ir para Alféloas apanhar amoras com a minha prima Elsa, tornar a cantarolar: “Gostas de amoras? Vou dizer ao teu pai que já namoras!”
Quero as unhas pretas do pó e da sua tinta e a seguir fugir à frente de uma vaca que se cansou do cativeiro. Quero uma Camila-Mila no Natal. Quero o Um-Maricocum com direito a gema de ovo no final da sopa engolida. Quero o porta-moedas preto da Vó Tina cheio de chiclets Gorila para nos dar nos Domingos (dia de missa e de netos).
É com este acto impertinente e caprichoso que conto as histórias. No final fico só eu, contente.
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