Lá estavam todos desalinhadinhos, dentro daquela casinha pré-fabricada como os anões deixados pela Branca de Neve. Entro em Lilliput.
- É verdade que o teu avô era mecânico? Porque tens esse anel? Quem te contou essa história?- e com estas bocas perguntadoras vou aquecendo e vou contando uma sobre a Lua, outra do macaco que adorava fruta, adivinhas...
O Renato traz um saco do Modelo carregado de tesouros: vai fazendo o desfile das suas relíquias tão antigas. O Ronald MacDonalds, carrinhos velocíssimos: 8 cilindros no mínimo ( a avaliar pelo barulho que sai dos seus lábios), apesar de lhes faltar uma roda, etc, etc.
Mas repara que no canto da sala o Bruno (quatro anos mais novo) esconde qualquer coisa encostando-se à parede, tapando com as pernas um pacote de Ice Tea. O Bruno ri com um riso desdentado e ternurento: também ele tem coisas para mostrar!
- Eu bebi o sumo!- e solta uma gargalhada que se desdobra em regozijo e confissão.
Turgueniev dizia que existem dois motores básicos para a vida: um é o AMOR, o outro a FOME. É de facto a Fome e o Medo da Fome que está na base de muitas acções do Ser Humano, mesmo do mais jovem, urbano ou racional.
O Renato levantou-se e sem dar tempo ao mais pequeno de fugir ou se esconder, encurralou-o e castigou-o por não partilhar com ele a comida.
- Vais levar, vais levar!- era só o que dizia e o que ouvia, enquanto pontapeava e soqueava o ar porque já o tínhamos afastado do inconsciente infractor.
A Madre veio buscar o Renato ( a Branca de Neve aparece de vez em quando!, possivelmente para comunicar que existem 7 pratinhos e 7 garfinhos, mas que não é preciso ser-se tão matemático na comida) enquanto o Bruno, ao meu lado, deixava cair gordas lágrimas em cima de um livro com uma imagem pateta de um gato a beber leite...
E eu com uma vontade de me transformar em Scarllett de Calcutá, agarrar num punhado de lenços de papel (era o que havia) e dizer:
- AND I PROMISSE THAT YOU'LL NEVER BE HUNGRY AGAIN, CARAGO!
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