quarta-feira, abril 25, 2007

25 de Abril



Chamava-se Catarina
O Alentejo a viu nascer
Serranas viram-na em vida
Baleizão a viu morrer.

José Afonso, Cantar Alentejano

segunda-feira, abril 23, 2007

23 de Abril- Dia Mundial do Livro


Os livros são casas
com meninos dentro
e gostam de os ouvir rir,
de os ver sonhar
e de abrir de par em par
as paisagens e as imagens,
para eles, lendo, poderem sonhar.

José Jorge Letria, Ler doce ler

segunda-feira, abril 16, 2007

Velhas Palavras, Novas Leituras


Entre Junho e Outubro de 2004 António Fontinha realizou um hercúleo trabalho de campo, onde procedeu ao levantamento de contos populares na Região de Entre Douro e Vouga.
Cerca de 500 contos foram recolhidos em registo audio e respectivamente catalogados.
Agora podemos ouvir um desses contos aqui no leitor do blog. A informante é a Dona Avelina Soares de Almeida, de 81 anos, residente em Arouca.


" (...) Num tempo tão cheio de tanta coisa, é de justiça "tirar o chapéu" a essas histórias milenares que teimosamente perduram na memória e àqueles que, acalentados pela chama dos afectos- " A gente quando fala nestas coisas parece que ainda sente alegria (...) aquilo era ali uma roda de irmãos todos, ali todos à espera do comer, e tudo a contar a sua história"- as seguem recordando. (...) "


António Fontinha, Julho de 2005

terça-feira, abril 10, 2007

Os três pratos

(Na foto estão quatro pratos, mas na realidade trata-se de uma ilusão de óptica, pois se fixarem o bueiro durante 15 minutos verão três, e se o fixarem durante 20 minutos não irão ver nada.)

Quando o camponês descobriu que sua mulher o traiu, obrigou-a a preparar a mesa para três. E durante o resto da vida comeram contemplando, diante deles, o terceiro prato vazio.



Tonino Guerra, Histórias para uma noite de calmaria, p. 71, Assírio & Alvim, Lisboa, 2002

domingo, abril 01, 2007

Corre, corre, cabacinha

Hoje temos duas versões do mesmo conto, com desenlaces diferentes: A velha e os lobos.
A versão escrita, recolhida em Coimbra, é da responsabilidade de Adolfo Coelho, incluída na antologia Contos populares portugueses, pp 95-96, Publicações Dom Quixote, 7ª edição, Lisboa, 2002.
A versão video, recolhida no Baixo Alentejo,
(onde deixo aqui o link) é da responsabilidade de José Barbieri, Cristina Taquelim e Marta do Ó.
A contadora, tão expressiva, é a Dona Olívia Brissos.
Agora quero tudo "tira-tira beque-beque" que vamos contar um conto:

A velha e os lobos

Uma velha tinha muitos netos, um dos quais estava ainda por baptizar. Um dia a boa velhinha saiu a procurar um padrinho para o seu netinho e no caminho encontrou um lobo, que lhe perguntou:
" -Onde vais tu, velha?"- ao que ela respondeu:
"-Vou arranjar um padrinho para o meu neto."
"-Ó velha, olha que eu como-te!"
"- Não me comas que quando se baptizar o meu menino, dou-te arroz-doce."
Foi mais adiante e encontrou outro loboque lhe fez a mesma pergunta e ela deu-lhe a mesma resposta. Depois encontrou um homem que lhe perguntou o que ela ia fazer e, como ela lhe respondesse que ia procurar um padrinho para o seu neto, ele ofereceu-se logo para isso. Depois a velha contou-lhe o encontro que tinha tido com os lobos e o homem deu-lhe uma grande cabaça e disse-lhe que se metesse dentro dela que assim iria ter a casa sem que os lobos a vissem. A velha meteu-se na cabaça e esta começou a correr, a correr, até que encontrou um lobo que lhe perguntou:

"- Ó cabaça, viste por aí uma velha?"
"- Não vi velha, nem velhinha;
Não vi velha, nem velhão;
Corre, corre, cabacinha
Corre, corre, cabação."
Mais adiante encontrou outro lobo que perguntou também:
"- Ó cabaça, viste por aí uma velha?"
"- Não vi velha, nem velhinha;
Não vi velha, nem velhão;
Corre, corre, cabacinha
Corre, corre, cabação."

A velha, julgando que já estava longe dos lobos, deitou a cabeça fora da cabaça, mas os lobos, que a seguiam, saltaram-lhe em cima e comeram-na.


Versão do conto A velha e os lobos, recolhida na região de Coimbra