PORT’ a Bailar é o novo grupo etnográfico de danças e cantares da EPM-CELP.
Constitui-se por um grupo informal que tem como fio unificador o gosto pelo folclore português.
Tem como missão revitalizar o património tradicional oral, musical e coreográfico da cultura portuguesa.
As inscrições estão já abertas a todos os funcionários, professores. alunos e encarregados de educação da EPM.
Para mais informações,contacte a Secretaria ou a Profª Tânia Silva.
Entretanto, abram o apetite para as danças com esta crónica.
Só lá vou com cantigas
“A minha saia velhinha
Toda rotinha de andar a bailar
Agora tenho uma nova,
feita na moda para estrear.”
(Cantiga da Sacha, recolh. Minho,
antologia: Povo que canta)
Acabaram-se as férias. Regressar ao ritmo monótono dos dias de trabalho urbano e esquecer reuniões de família, viagens, jantaradas, concertos e festivais vai ser difícil. Porque não fazer como as camponesas de outrora e ir, com o cesto do farnel na mão, preparados para encher os recantos mais bafientos dos nossos gabinetes e salas de aula com belos timbres de cantigas de trabalho?
Dado o meu estado depressivo, já me antecipei com os preparativos, e, ouvi esta canção: “A minha saia velhinha, toda rotinha de andar a bailar”… Ao ouvir esta cantiga tradicional não contive o sorriso pelo contraste entre o som de cavar a terra dura e o lirismo doce que o grupo das vozes femininas deixa transbordar. Como é que este bando de mulheres nortenhas, persistentes, de sachola em riste, gotas de suor a espreitar em cada poro ainda tem ânimo e energia para entoar uma canção sobre o estado da roupa?
Excitação com a abertura da nova Mango? Crise de ansiedade pela próxima “ladies night”? Não, algo muito diferente: Descobriram o poder da música e da dança. A meio do trabalho. Normalmente as grandes descobertas e avanços na História da Humanidade são feitas nas situações mais adversas. É também sabido que a espécie humana tem como forma de alienação a música, a poesia, a dança e tantas outras formas artísticas.
Para estas mulheres, uma forma de aliviarem as “duras penas” é o canto, canto esse que evoca um baile. Duplo alheamento, portanto. Nem a ceifeira de Pessoa chegou a tanto!
Para quem canta e para quem dança o Tempo é redimensionado. O tempo cronológico suspende-se e nós, quais arquitectos do novo universo, recriamos um novo espaço e um novo tempo. O nosso corpo reparte-se pelo espaço ao sabor do desejo de dançar – mais ou menos agitado - e aí concebemos o infinito. Rasgamos o ar, o chão, o salão (e a saia) em busca da libertação do corpo e a explorar o espaço imaginado, que nunca acaba, que é um jogo de cruzamentos com outros corpos aspirantes da mesma liberdade.
O conceito de Infinito não é pêra doce, há quem o descubra na Matemática, outros na Religião, infelizmente nunca foi o meu caso.
A minha professora de Matemática (daquela matemática mais abstracta -porque até à escola primária a Dª Alda dava-nos problemas concretos sobre pessoas remediadas-) assustava-nos com o seu assobio de trabalhador de andaime durante os exercícios de gente alguma. O meu catequista era um talhante que aos Sábados nos dizia que Deus era muito grande e estava em todo lado, entre muitos outros super-poderes, e nos dias úteis empunhava facões e machados para esventrar vacas e porcos.
O mundo era muito pequeno: começava no som estridente do silvo da Profª Manuela Borges e acabava na mancha de sangue do avental do Srº Tomé.
Mais tarde, o mundo cresceu consideravelmente, mas sentir o Infinito, ah, isso, só lá vou com cantigas…
Acabaram-se as férias… vamos cantar e bailar?